Minha mãe sempre contava para mim e meus irmãos sobre sua infância no Marajó, um tempo em que a natureza ainda pulsava com toda a sua força e grandiosidade. Entre as histórias que ela compartilhava, uma das que mais nos fascinava era a visão dos grandes lotes de animais atravessando os rios.
Ela descrevia com detalhes a cena impressionante: porcos do mato, catetos, onças e até jacarés-açu desafiando as águas, guiados pelo instinto e pela necessidade de sobrevivência. As correntezas não eram um obstáculo, mas parte do caminho natural que levava a novas terras, a caça ou à fuga de predadores. Os pássaros acompanhavam o movimento do alto, enquanto o sol dourava as águas barrentas do rio.
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Hoje, essas travessias se tornaram raras. O avanço das cidades, a destruição das florestas e até as mudanças no clima alteraram esse ciclo que, antes, era parte do cotidiano amazônico. O que antes era um espetáculo da vida selvagem, agora é apenas memória – uma lembrança que minha mãe nos deixou como um retrato de um tempo que não volta mais.
Mas, ao ouvir essas histórias, sinto que elas ainda vivem, como um eco da Amazônia que um dia foi e que, de alguma forma, ainda resiste.
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